quarta-feira, 14 de abril de 2010

reflexão

Hoje o dia amanheceu devagar, o céu estava coberto de nuvens cinzentas e a chuva que caia no chão criava uma melodia calma e tranquilizante que pairava no ar. A vontade de sair da cama é escassa, nestes dias é tão difícil sair e apanhar o autocarro em direcção à escola.
As aulas iniciaram-se cedo, às nove horas já estava sentada com os meus colegas numa sala enorme que nunca enchemos. Esta escola está vazia, a minha turma é constituída apenas por nove alunos, somos a última turma de humanidades. É triste falar sobre isto, sobre este deserto em que a minha região se tornou. Os locais deixaram de ter vida, e estou cansada desta situação, deste ambiente, destas pessoas, deste ritmo, de tudo um pouco. Já não se vê nada nem ninguém, os meus antigos colegas estão na universidade e eu aqui …
Errei e estou a pagar por esse erro. Pagarei eternamente por aquela decisão influenciada por terceiros, que no décimo ano tomei.
No entanto não é só isso que hoje me irrita, que me faz reflectir e chorar. Quero sair deste local, estou saturada, quero partir à descoberta. Pretendo sofrer com os meus actos, decidir sozinha, chorar de saudades disto. Quero ter asas e voar daqui…
Será isto uma necessidade estúpida?? Talvez seja mas hoje é o que sinto. Tenho perfeita consciência de que sou uma pessoa diletante, e que possivelmente mudarei de ideias, no entanto neste momento quero sair. Quero mudar, tornar-me noutra pessoa, rodeada de pessoas que não saibam como sou agora.
Sinceramente não sei o que me deu hoje para escrever estas coisas, certamente será influência do dia horrível que está lá fora.
Há pouco no corredor vi aquele estúpido, irrita-me de tal forma que a minha barriga começa a andar às voltas. Bem dizem que “do amor ao ódio é um passo”, acho que inverti o provérbio, mas é assim que corresponde à realidade.
Tenho sonhado com ele todas as noites, de como s coisas eram antigamente, parece tudo tão real e perfeito nos sonhos, mas a realidade nada se compara com esses sonhos e necessito rapidamente de tomar consciência disso. Mas é tão difícil esquecer uma pessoa, ainda por cima esta pessoa, depois de tantos anos juntos, de tantos momentos partilhados, de alegrias tristezas, crescemos juntos, transformamo-nos mutuamente ao longo do tempo. Conhecia-o tão bem que já nem precisava que ele falasse para perceber o que sentia, tinha por isso perfeita noção de que as coisas estavam diferentes, que o sentimento estava a morrer, já não sentia prazer em estar comigo, o seu coração já batia à velocidade de costumava bater quando os nossos corpos se uniam. A intensidade com que gritava o meu nome diminuíra, e as palavras trocadas eram cada vez menores. Antigamente riamos juntos, eu sabia que ele me amava como nunca tinha amado ninguém, deixava tudo por mim, e o seu corpo não resistia ao meu toque, mas tudo mudou, nós fizemos com que tudo mudasse.
No sábado fiz o que a minha amiga sugeriu, falei com ele e disse lhe tudo o que sentia e que nunca lhe tinha ditos, queria explicar-lhe tudo. Após uma noite de excessos, já era o álcool que falava mais alto, peguei no telemóvel e as mensagens para ele começaram a ser enviadas, umas atrás das outras. Ele pouca coisa disse, mas foi o suficiente para eu perceber que era o fim definitivo. Engraçado como eu, que sempre fui contra casamentos, sonhava constantemente com a nossa união, mas naquela troca de mensagens ele disse-me que queria assentar, e não era comigo. Gosta de outra pessoa que não sou eu, quer que eu o esqueça e diz que já não me ama, que não sente nada por mim.
Foi tão mau ouvir aquelas palavras, não chorei mas sofri em silencio, e isto ainda é o inicio. A nossa relação era estranha, éramos ambos livres mas amavamo-nos apesar das loucuras exteriores, mas agora ele diz-me eu quer assentar??? Agora que eu tive coragem e disse-lhe que o amava, agora eu eu estava disposta a admitir uma ralação seria com o maior playboy da escola, agora não era definitivamente a altura certa…
Eu sei que errei, fui horrível com ele, fi-lo sofrer, enganei-o, sou culpada por ele ser playboy e por eu também ser assim, já não conseguimos amar, eu também me tornei horrível. Também isto me faz querer mudar, sair daqui e aprender a amar. Mas jamais o esquecerei e apesar de tudo tenho a certeza que ele também não, ele disse-me inúmeras vezes, e ambos somos especiais um para o outro.
Não pensar mais nisto, quero apenas seguir em frente e mudar, por isso é melhor hoje ficar por aqui e não escrever nem reflectir mais.